Era estranho estar novamente naquele lugar, naquele
mesmo lugar. Sentei no banco de frente ao carrossel, a mochila nas minhas costas tinha tudo que eu precisava, algumas roupas e um sapato limpo, uma sacola nas mãos, que agora estava no banco, tinha apenas um livro, que pretendia deixar na frente da casa dele.
O carrossel funcionava mesmo sem ninguém sentado. As recordações logo vieram até mim, era possível te ver ali, te sentir ali.
"Novembro de 2008
- Tem certeza que quer andar? - Dizia ele só sorrisos.
- Tenho sim! Vem comigo? - ela disse sorrindo, sentindo o coração bater tão rapidamente.
- Vamos! - Disse ele puxando-a pelas mãos.
Sentaram, ela na frente dele. De tempos em tempos ela virava para ele e sorria. A cumplicidade era explicita. Logo o carrossel parou e eles desceram. Deram-se as mãos e os olhares se encontraram.
- Gostou?
- Gostei. - Ela disse abraçando-o. - Tudo com você é sempre melhor.
-
Fique quieta e escute... Eu nunca estive tão feliz como estou agora. E devo tudo a você. Obrigada por tudo. - Ele disse à ela que logo sorriu."
Eu sorri recordando desta cena, a cena que me faria estar aqui, que me faria ter vontade de viver. Sei que a frase que ele havia me dito estava neste livro e logo poderia mudar a vida toda dele novamente.
Abri a sacola que estava ao meu lado e peguei o livro. Um livro branco, duas letras vermelhas o descrevia e na capa dizia
GO.
"- Eu preciso te dizer. - Disse ele. - Não quero mais. Não quero que você sofra. Não quero que isso vá adiante também. Acabou. - Ele dava as costas."
Era mais estranho recordar essa cena do que estar ali no carrossel. Depois deste dia eu fui para casa, chorei mágoas, briguei com o mundo. Havia deixado tudo para viver aquele amor e o que o faria terminar tudo era a falta de vontade dele de viver.
"- Go! Vá em frente, minha querida, vá em frente!" - Ele dizia toda vez que eu tinha vontade de desistir de algo. Posso sentir as lágrimas correrem em meus olhos.
Levantei, com o livro nas mãos e fui até a porta da casa dele, onde tudo havia começado. Era em frente ao carrossel. Havia dobrado a parte em que mais gostava, que ele sempre me dizia quando estávamos juntos, que dizia: "
Dizem que a vida é cheia de altos e baixos. Mais baixos do que altos, como você pode ver pela minha própria vida. Mas quando tudo estiver ruim, lembre-se destas duas letras que formam uma palavra. GO. Vá. Vá em frente. Escreva, desenhe, pinte, fotografe, dance, costure, atue, cante.Portanto, quando tudo estiver ruim, lembre-se destas duas letras que formam uma palavra. GO. Vá. Vá em frente.Apenas faça." E junto havia deixado um bilhete:
"E algo me diz sinceramente: quando eu colocar os pontos finais no meu livro, vou saber que cheguei a algum lugar, que eu percorri um caminho que precisava, ou melhor, deveria, e que nenhum arrependimento ficou no meu caminho. Eu saberia que fiz o meu melhor, fiz o que eu poderia fazer, o meu máximo, e que também saberia e ficaria satisfeito mesmo que o meu máximo não fosse bom o suficiente. Eu saberia que fiz o que pude. E vou ficar feliz. Muito feliz. Com certeza. Sim, você me ensinou a sempre ir, GO! Por favor não desista. Lembra do meu sonho de sair pelo mundo e dizer as pessoas o que realmente elas precisam saber, através do meu livro? Vou realizá-lo porque é preciso viver, é preciso ir. GO, GO, sempre!"
Deixei o livro ali e sai, ele saberia de quem era e porque era. Simplesmente, GO! Go, siga em frente! Até
mesmo porque aprendi que a única maneira de controlar minha melancolia, é continuar sonhando.
Trechos em Itálico são do livro GO, do Nick Farewell. Compre aqui.